😢 Neste momento em que passa o Brasil
Conflitos
degenerativos da sociedade
A
crise de credibilidade, de confiança, de amor instaura o estado conflitivo da
personalidade que perde o roteiro, incapaz de definir o que é correto ou não,
qual a forma de comportamento mais compatível com a época e, ao mesmo tempo,
favorável ao seu bem-estar, anquilosando[1]
pessoas refratárias ao progresso nas ideias superadas ou produzindo grupos
rebeldes fadados à destruição, que se entregam à desordem, à contracultura,
buscando sempre chocar, agredir.
Os
grupos opostos se afastam, se armam e se agridem.
O
homem ainda não aprendeu a ser solidário quando não concorda, preferindo ser
solitário, ser opositor.
Certamente,
a renovação é lei da vida.
A
poda faculta o ressurgimento do vegetal.
O
fogo purifica os metais, permitindo-lhes a moldagem.
A
argila submete-se ao oleiro.
A
vida social é resultado das alterações sofridas pelo homem, seu elemento
essencial.
É
necessário, portanto, que se dê a transformação, a evolução dos conceitos, o
engrandecimento dos valores. Para tal fim, às vezes, é preciso que ocorra a
demolição das estratificações, do arcaico, do ultrapassado. Lamentavelmente,
porém, nesta ação demolidora, a revolta contra o passado, pretendendo apagar os
vestígios do antigo, vai-lhe até as raízes, buscando extirpá-las.
O
homem e a sociedade, sem raízes não sobrevivem.
No
começo, o paganismo greco-romano era uma bela doutrina, rica de símbolos e
significados, caracterizando o processo psicológico da evolução histórica do
homem. O abuso, mais tarde, fê-lo degenerar e a Doutrina cristã se apresentou
na forma de um corretivo eficaz, oportuno. A dosagem exagerada, porém, terminou
por causar danos inesperados, no largo período da noite medieval, da qual
algumas religiões contemporâneas ainda padecem os efeitos negativos.
O
mesmo vem acontecendo com a sociedade que, para livrar-se das teias da
hipocrisia, da hediondez[2],
dos preconceitos, da vilania[3],
da prepotência, elaborou os códigos da liberdade, da igualdade, da
fraternidade, em lutas sangrentas, ainda não considerados além das formulações
teóricas e referências bombásticas, sem repercussão real no organismo das
comunidades humanas em sofrimento.
As
recentes reações culturais contra a autenticidade da conduta têm produzido mais
males que resultados positivos.
Em
nome da evolução, sucedem-se as revoluções destrutivas que não oferecem nada
capaz de preencher os espaços vazios que causam.
A
insatisfação do indivíduo fustiga e perturba o grupo no qual ele se localiza,
sendo expulso pela reação geral ou tornando-se um câncer em processo
metastático. Facilmente o pessimista e o colérico contaminam os desalentos,
passando-lhes o morbo[4] do
desânimo ou o fogo da irritação, a prejuízo geral.
Armam-se
querelas desnecessárias, altera-se a filosofia dos partidos existentes, que se
transferem para a agressividade, as acusações descabidas, sem trabalho à vista
para a retificação dos erros, a reabilitação moral dos caídos, para o bem-estar
coletivo.
Cada
pequeno grupo dentro do grupo maior, sem consenso, busca atrapalhar a ação do
adversário, mesmo quando benéfica, porque deseja demonstrar-lhe a falência,
movido pelos interesses personalistas, em detrimento do processo de
estabilidade e crescimento de todos.
O
personalismo se agiganta, as paixões servis se revelam, o idealismo cede lugar
à vileza moral.
A
predominância do egoísmo em a natureza humana faz-se responsável pelo caos em
volta, no qual os conflitos degenerativos da sociedade campeiam.
Surgem
as plataformas frágeis em favor do grupo desde que sob o comando e a
alternativa única do ególatra[5],
que alicia outros semelhantes, que se lhe acercam, igualmente ansiosos por
sucessos que não merecem, mas que pleiteiam. Inseguros, incapazes de competir a
céu aberto, honestamente, aguardam na furna[6] da
própria pequenez, por motivos verdadeiros ou não, para incendiarem o campo de
ação alheia, longe dos objetivos nobres, porém reflexos dos seus estados
íntimos conflituosos.
Não
se tornam adversários leais, porque a inveja, antes, os fizera inimigos ocultos
que aguardavam ensejo para desvelarem-se.
Face
às distonias[7] pessoais de que são
portadores, decantam a necessidade do progresso da sociedade e bloqueiam-no com
a astúcia, a desarticulação de programas eficientes, antes de testados,
atacando-os vilmente[8] e
aos seus portadores, a quem ferem pessoalmente, pela total impossibilidade de permanecerem
no campo ideológico, já que não possuem idealismo.
Estimulam
a dissensão[9], porque os seus conflitos
não os auxiliam a cooperar, entretanto, os motivam a competir. Não podem
trabalhar a favor, porque os seus estímulos somente funcionam quando se opõem.
Em
razão da insegurança pessoal desconfiam dos sentimentos alheios e provocam
distúrbios que se originam em suspeitas injustificáveis, a soldo do prazer
mórbido que os assinala.
O
conflito íntimo é matriz cancerígena no organismo humano em constante ameaça ao
grupo social.
Cabe
ao homem em conflito revestir-se de coragem, resolvendo-se pelo trabalho de
identificação das possibilidades que dispõe, ora soterradas nos porões da
personalidade assustada.
Sentindo-se
incapaz de enfrentar-se, a busca de alguém capacitado a apontar-lhe o rumo e
ajudá-lo a percorrê-lo é tão urgente quão indispensável. Inúmeras terapias
estão ao seu alcance, entre os técnicos da área especializada, assim como as da
Psicologia Transpessoal apresentando-lhe a intercorrência de fatores
paranormais e da Psicologia Espírita, aclarando-o com as luzes defluentes dos
fenômenos obsessivos geradores dos problemas degenerativos no indivíduo e na
sociedade.
O
conglomerado social, por sua vez, tem o dever de auxiliar o homem em conflito,
de ajudá-lo a administrar as suas fobias, ansiedades, traumas, e mesmo o de
socorrê-lo nas expressões avançadas quando padecendo psicopatologias diversas,
em ética de sobrevivência do grupo, pois que, do contrário, através do
alijamento de cada membro, quando vier a ocorrência se desarticulará o
mecanismo de sustentação da grei[10].
A
sociedade deve responder pelos elementos que a constituem, pelos conflitos que
produz, assim como assume as glórias e conquistas dos felizardos que a compõem.
Os
conflitos degenerativos da sociedade tendem a desaparecer, especialmente quando
o homem, em se encontrando consigo mesmo, harmonize o seu cosmo individual
(micro), colaborando para o equilíbrio do universo social (macro), no qual se
movimenta.
Fonte: O Homem Integral –
Joanna de Ângelis
[1] Anquilosar
- Diminuição ou impossibilidade absoluta de movimentos em uma articulação
naturalmente móvel
[2] Hediondez
- Depravado, vicioso, sórdido, imundo
[3] Vilania
- Mesquinhez, avareza.; Ato vil; vileza
[4] Morbo
- Estado patológico; doença
[5] Ególatra
- Pessoa que tem o culto de si mesma, que pratica a egolatria:
[6] Furna
– Subterrâneo; Caverna ou gruta, ger. formada de blocos de pedra
[7] Distonia
- Perturbação funcional que afeta, ger., o aparelho circulatório, ou o
digestivo, ou ambos, e em cuja gênese é significativo um fator psicológico;
Distúrbio de tonicidade muscular
[8] Vilmente
– Vil - Mesquinho, miserável, insignificante; Pessoa desprezível, infame
[9] Dissensão
- Divergência de opiniões ou de interesses; Desavença, desinteligência,
dissidência
[10] Grei
- Rebanho de gado miúdo; Sociedade; partido; O conjunto dos paroquianos ou
diocesanos; congregação